Os profissionais da política de negócios estão à frente do ataque à Petrobras agora, como antes estiveram por ocasião da venda da Vale do Rio Doce e de tantas outras empresas públicas que passaram pelo processo de “privataria”. São os empresários-políticos, políticos lobistas de empresas e lobistas que atuam na política. Vivem às custas do Estado, lucram e enriquecem com dinheiro público, em prejuízo de 99% da população e do País. Eles são os negociadores do Estado.
Essas pessoas divulgam diuturnamente suas idéias sobre o papel do Estado, através da Grande Mídia, e, junto com seus parceiros do sistema financeiro, dizem como a Economia no Brasil deve funcionar, qual o mínimo aceitável para as taxas de juros, e tudo o mais que interessa aos grandes capitalistas, nacionais e estrangeiros, como a campanha contra a Bolívia e a Venezuela, os ataques às restrições ambientais e às terras indígenas, mais as questões relativas aos direitos trabalhistas. Seus nomes mais visíveis estão nas revistas e jornais diários, assinando artigos, em entrevistas, ou como “fonte” de todo tipo de matérias.
Para eles, é fundamental garantir que todo o sistema político continue funcionando como um grande bazar, onde tudo é vendável, e o preço depende da capacidade de barganha de cada lado. No sistema atual, o começo se dá pela compra do voto pelo candidato ou candidata a um cargo eletivo. Para isso, são necessários recursos bem acima do necessário para propaganda, equipe e infra-estrutura (imóveis, veículos, combustível), mas compatíveis com o total de votos a obter através de compra pura e simples. Parlamentares e governos eleitos dessa forma endividam-se de fato ou moralmente com seus financiadores. Em termos literários, vendem suas almas para o Diabo.
Nesse momento, estão ocorrendo milhares de conversas visando acertar esquemas assim, em todo o Brasil. Estão em disputa os cargos executivos mais cobiçados, e a estrutura paralela constituída pelas assembléias legislativas nos estados, a Câmara dos Deputados e o Senado. As engrenagens de recursos para compra de votos estão iniciando os acertos, checando os mapas e fazendo as contas. Os (poucos) casos de eleitos cassados por compra de votos são considerados custo. As manchetes sobre “caixa dois” são motivo de risadas. “Caixa dois” é o de menos, nesse mundo onde a política é negócio. O importante é eleger os negociadores, custe o que custar, porque qualquer que seja o valor, será sempre investimento. E de mais a mais, depois de algum tempo, ninguém lembrará do preço pago pelo Sisvam, nem que foi comprado sem licitação; por quanto a VALE foi descartada; ou que a Petrobrás no governo FHC valia dez vezes menos do que no governo Lula. São tantos bilhões de dólares, uns a menos, uns a mais, que diferença faz?
A Reforma Política poderia diminuir a quantidade de negociadores em ação, se ela incluísse um endurecimento inédito em relação à compra do voto “primário”, mas é ilusão imaginar que ela possa ocorrer com esse Congresso que aí está. É preciso reduzir os valores de doação permitidos às empresas. O que se pode esperar de quem doou R$500 mil a um candidato? Uma empresa que doa milhões, ainda que legalmente, só o faz porque está investindo em negociadores, porque sabe que chegará o dia em que o investimento retornará, é apenas questão de tempo.
Quem define suas candidaturas é a capacidade de arrecadação de recursos, que por sua vez está vinculada aos relacionamentos, e, em geral, ao cumprimento posterior dos acordos. Existem casos exemplares de negociadores que sempre candidataram-se, mesmo perdendo muito mais do que ganhando, porque seus investidores tinham certeza de que um dia seriam eleitos, e aí obteriam de volta os caraminguás investidos – ainda que ultimamente alguns deles tenham passado dissabores, com a atuação da Receita Federal, da Polícia Federal e da Justiça.
A Petrobrás é a bola da vez, porque ela aumentou muitas vezes o seu valor durante o governo Lula, graças a vários fatores, mas, principalmente, às descobertas offshore ocorridas nos últimos anos. A cobiça internacional sobre ela agita os negociadores nacionais, excitados com as perspectivas de lucros que se abrem com as eleições em 2010. O xadrez eleitoral que está sendo montado pelos negociadores em função dela explica a aprovação da CPI, mas ela é apenas a ponta do iceberg. Pode ser que venham campanhas midiáticas ostensivas e/ou subliminares, para convencer parte do eleitorado que ela será melhor administrada e mais lucrativa se estiver nas mãos da iniciativa privada.
Mas a CPI da Petrobrás pode ser também uma grande manobra diversionista, para nos entreter, enquanto os negócios em outras áreas acontecem a todo vapor. Pouca gente se deu conta, por exemplo, que o Brasil passou a ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, apesar de estar longe de ser o maior produtor agrícola. Por falar em agrotóxicos, o Brasil continua liberando o uso de sementes transgênicas, para empresas cujo único compromisso com a Humanidade é lucrar mais. Esses dois exemplos, entretanto, são fichinha perto do que ocorre na área mineral. E do setor financeiro nem é bom falar, afinal, ele foi o maior financiador das campanhas eleitorais no Brasil desde 1994. Ou foram as empreiteiras? (Quem vai saber? – É tudo “caixa dois” mesmo.)
Milton Pomar é geógrafo, empresário, e trabalha em campanhas eleitorais desde 1986.
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