segunda-feira, 31 de março de 2008

I Congresso de Juventude do PT


Nós, da Juventude da Articulação de Esquerda, apresentamos um resumo da nossa política para o I Congresso da Juventude do Partido dos Trabalhadores:
O I ConJPT é fruto do esforço pela aprovação da resolução "O PT e a Juventude" no III Congresso do PT. Isso só foi possível pois a SNJPT funcionou e possibilitou que, ao longo da gestão, fossem criados o entendimento e o ambiente de unidade que conferiu força à JPT e demonstrou ao conjunto do partido a necessidade de debater a pauta juventude.

Porém, ao longo de sua história, o PT careceu de uma política para sua juventude. Entre os motivos, destacamos:

a) Considerar os jovens espontaneamente mobilizados, não necessitando esforços organizativos adicionais;

b) Acreditar que o setor juvenil se resumia aos estudantes, que já se organizavam;

c) Incorporar uma visão da juventude como um momento de mera preparação para atuação partidária efetiva no futuro;

d) Considerar os jovens como bons agitadores, mobilizadores, cabos eleitorais e correrias de transmissão, mas não para formulação, debate político e tomada de decisões;

Portanto, para formular uma política de juventude e um novo modelo de organização, o PT precisa superar a visão que tem dos/as jovens. O PT deve entender que a juventude é um segmento social submetido a compreensões oriundas do senso comum, o qual remete estereótipos (imaturidade, inexperiência, irresponsabilidade, etc.) e nos impede de compreender que os/as jovens estão sujeitos/as a relações de hierarquia e poder.

Os/as jovens devem ser compreendidos como sujeitos políticos com capacidade de intervenção no partido e na sociedade e devem ser dotados de autonomia para fazê-lo. Para isso, é necessário que haja, a partir do protagonismo dos jovens petistas, mas garantindo o envolvimento de todo o PT, uma política de partido para juventude.

Ao mesmo tempo, o PT deve compreender que a juventude é um grande contingente populacional e, na atualidade, o mais prejudicado pelo modelo de desenvolvimento capitalista e neoliberal. Os/as jovens são os que recebem os piores salários, compõem quase metade dos desempregados, estão mais sujeitos às condições precárias de trabalho, são as principais vítimas da violência e do genocídio nas periferias e têm, em sua ampla maioria, escasso acesso a bens e equipamentos culturais.

O I ConJPT tem a função de finalizar um capítulo da história do PT no que se refere à juventude e iniciar um novo ciclo. Como não conseguiremos superar em um único congresso 28 anos de uma organização juvenil precária e nem elaborar um programa completo para a juventude brasileira, o I ConJPT será o primeiro passo para um período de transição.

O I ConJPT tem como tarefas centrais:

a) Aprovar as diretrizes da concepção e da estrutura organizativa da JPT;

b) Acumular na discussão do programa para juventude brasileira e desencadear um processo de diálogo deste programa com toda sociedade;

c) Eleger as novas direções, que deverão consolidar a nova organização com a aprovação de um estatuto próprio da JPT reconhecido pelo conjunto do PT a partir das resoluções do I Congresso e organizar o II ConJPT em 2009.

Desde 2005, o PT passa por um período de transição em sua história, que será finalizado em 2010, a primeira vez em que Lula não será candidato a presidente desde a redemocratização do país. O novo período pode se caracterizar pela construção de uma maioria e uma estratégia sólidas como no período 1995-2005 ou pela continuidade de indefinições estratégicas. Da mesma forma, o novo período pode representar mudanças significativas em relação à estratégia de centro-esquerda hegemônica entre1995 e 2005, ou, por outro lado, a sua recomposição.

Os próximos anos serão determinantes para o PT deixar de ser um partido eleitoral e torne a ser um partido militante. É preciso, no próximo período, repensar a relação que o partido mantém com as classes trabalhadoras e os movimentos sociais. O esvaziamento dos espaços partidários de militância e debate nos últimos 15 anos fez com que as correntes e os mandatos passassem a cumprir com a função que compete ao partido.

Queremos contribuir para que tenhamos uma organização juvenil que revitalize a influência do PT nos movimentos sociais e vice-versa, resguardando a autonomia de ambos. A JPT deve ser capaz de organizar a base social e a influência petista entre os jovens (o que é muito maior que os jovens filiados), influenciar nas decisões do partido e contribuir com sua vida partidária.

A organização de juventude do PT deve ser autônoma, militante e de massas: uma frente de massas na juventude fará com que o PT tenha uma atuação de partido no movimento social e não uma atuação de frente política como temos hoje.

A autonomia da JPT deve ser garantida para fortalecer as posições dos petistas nos movimentos como posições de partido, para nos permitir ampliar a influência do PT na juventude e para facilitar a aproximação dos jovens ao PT. Nossa compreensão de autonomia não se confunde com independência.

A juventude petista, como o próprio nome diz, não deve, de um lado, se esconder atrás de nomes fantasia e, de outro, ser uma mera correia de transmissão do PT na juventude. A JPT deve sim ter autonomia de posição, mas, ao mesmo tempo, se relacionar democraticamente com o conjunto do partido, garantido que seja a representação legítima do PT entre os jovens brasileiros.

Além de organizar e mobilizar os diferentes segmentos da juventude incidindo no acúmulo de forças, na conquista de hegemonia e no avanço sólido de médio e longo prazo do campo democrático e popular, a JPT possui também a dimensão de formular e implementar políticas públicas. Trata-se de criar oportunidades para que a juventude desenvolva plenamente seu potencial, diferentemente da idéia de monitorar, tutelar ou até mesmo controlar os jovens, como se fossem um risco para si e para a sociedade.

Porém, não devemos restringir a tentativa de transformar a realidade dos jovens brasileiros às políticas públicas, uma vez que a realidade da juventude está intimamente ligada a problemas estruturantes. Não podemos conceber as PPJ desarticuladas das necessárias reformas estruturais do Estado. Para nós, socialistas, a luta tática pelas PPJ é constituinte do programa democrático-popular na medida em que faz parte da construção da igualdade social e das melhorias que almejamos conquistar para as classes trabalhadoras.

Deste momento em diante a juventude deve ser pauta constante do conjunto do PT para que possamos potencializar o petismo no segmento juvenil brasileiro e fortalecer o acúmulo de forças e a conquista de hegemonia do projeto socialista na sociedade.


A Juventude escreve sua História

A juventude teve participação significativa para construir o mundo em que vivemos. Através da literatura, da música e demais expressões artísticas; dos movimentos culturais e contestatários; das manifestações libertárias e contra-hegemônicas (e conservadoras); da militância revolucionária (e contra-revolucionária); enfim, nos grandes momentos decisivos e também na vida cotidiana, a juventude fez parte da roda da história.

O Brasil também tem uma rica história da participação juvenil. Mas não cabe aqui – por não ser o foco do texto e pela extensão dos exemplos – discorrer sobre esse legado. No momento, basta compreender que hoje não é diferente: a juventude continua a escrever a história.
Este é o entendimento da JPT. Mas, como jovens petistas, anti-capitalistas e socialistas, não é uma história qualquer que pretendemos escrever. Construímos a história da classe oprimida em luta, buscando liberdade e o fim da exploração.
Atualmente, a JPT está envolvida no trabalho de organizar suas fileiras e sua militância. É um período de concentração e preparação. Uma tarefa que se demonstra urgente e necessária. Esse é o caráter do I Congresso da Juventude Petista.
Toda batalha tem seu campo e tempo próprios, os quais nem sempre podemos escolher. A I Conferência Nacional de Juventude é o terreno de mais uma delas. A disputa ideológica será intensa, refletindo a luta cotidiana de confronto de projetos com enfoque nos jovens. À direita, os capitalistas e o campo conservador. À esquerda, os socialistas e o campo democrático e popular. Além destes, uma infinidade de posições, opiniões e ideologias, igualmente em disputa.
Diversas etapas já ocorreram, houve muita mobilização. Nos dias 29 e 30 de março ocorrerão outras 17 etapas estaduais. Nos dias 05 e 06 de abril haverá mais. A etapa nacional ocorre de 27 a 30 de abril, em Brasília. Esta é uma oportunidade sem precedentes para a JPT se apresentar para jovens e movimentos juvenis. Um espaço onde estará representada a juventude em sua mais rica diversidade e pluralidade. Nele, teremos condições de conhecer melhor a juventude brasileira e estabelecer uma recíproca: ela poderá nos conhecer.
No entanto, para estabelecer este diálogo precisamos nos caracterizar. Se neste I Congresso da JPT estamos construindo o que queremos ser amanhã, na I Conferência Nacional de Juventude devemos nos apresentar como somos hoje.
Para isso, é fundamental trabalhar com nossa capacidade organizativa atual, sem precipitações, mas com clareza programática e política. Devemos expressar nossas bandeiras históricas, construir novas idéias e propostas e desenhar nossas estrelas vermelhas nas cartolinas, camisas e pedaços de pano. Resgatemos os eixos para a Conferência nas orientações da Secretaria Nacional da JPT: direito ao trabalho, direito à cidade, educação e revolução pedagógica, descriminalização do aborto, legalização das drogas e participação popular.
A JPT, muito mais que disputar espaços, testar sua força ou focar sua intervenção na burocracia organizativa da Conferência e seus desdobramentos, deve buscar um diálogo com aqueles que são protagonistas do processo – os jovens – com política na cabeça e vontade no coração.
A I Conferência Nacional de Juventude é um espaço plural e democrático de participação popular juvenil, estabelecendo um diálogo verdadeiro e horizontal das juventudes organizadas e demais jovens com o poder público e a sociedade. Está debatendo e desenvolvendo política. A juventude brasileira está pensando o país que quer para si hoje e amanhã. A predominância não é das cartas marcadas, pelo contrário, é da inovação, da intensidade de participação e da capacidade de envolver amplos segmentos de jovens, que pela primeira vez têm a oportunidade de falar e ouvir. Isto não é pouco e não se pode subestimar, muito menos ignorar.

“A juventude escreve sua história”. Este é o lema de nosso I Congresso. Sejamos ousados. Vamos escrever não só a história da juventude petista, mas da juventude trabalhadora de todo o país.


Rodrigo Cesar é membro do Coletivo Nacional da JPT