sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma CPMI contra a reforma agrária

Por João Pedro Stedile

Vejamos o censo agropecuário feito pelo IBGE em dezembro de 2006 e recém-publicado:

- Cerca de um por cento dos proprietários de terra no Brasil controla 46% das terras.

- Apenas 15 mil fazendeiros, com áreas acima de 2.500 hectares, são donos de 98 milhões de hectares (4 Estados de São Paulo juntos).

- A concentração de terras continua aumentando. E se desnacionalizando. Nos últimos anos as transnacionais compraram mais de 20 milhões de hectares de terra, água, minérios, etanol, usinas, madeira e biodiversidade.

- O índice de gini, que mede a concentração de terras, no Brasil é de 0,856, é o segundo país de maior concentração de terras do mundo.

- O Banco Opportunity, que opera recursos norteamericanos, comprou em três anos 56 fazendas e mais de 600 mil hectares, no sul do Pará.

- A Cutrale monopolizou a produção de sucos de laranja e levou à miséria milhares de pequenos e médios agricultores paulistas que tiveram que destruir 280 mil hectares de laranjais, em dez anos. Ela acumulou 60 mil hectares, em 36 fazendas. Detém 80% da produção de suco do país, exporta 90% e controla 30% do comércio mundial de suco, em parceria com a Coca-Cola.

- Os fazendeiros do agronegócio produzem 100 bilhões de reais por ano. Mas tomam emprestados todos os anos 90 bilhões de reais nos bancos.

- Essa produção é fruto do trabalho de três milhões de assalariados permanentes e temporários. É revendida para apenas 20 empresas (a maioria transnacionais).

- Essas 20 empresas faturam 115 bilhões de reais por ano. Ou seja, toda aquela riqueza vai parar nas mãos delas.

- O agronegocio dá emprego para apenas 15% da população economicamente ativa (PEA), os outros 85% trabalham na agricultura familiar. Há 18 milhões de trabalhadores rurais adultos, e, destes, 15 milhões estão na agricultura familiar.

- A agricultura familiar produz 85% dos alimentos que vão para a mesa do povo brasileiro. Já o agronegócio produz apenas para exportação.

- Graças à aliança dos grandes fazendeiros com as transnacionais, em 45 milhões de hectares, são aplicados 700 milhões de litros de venenos. Seis transnacionais produzem: Monsanto, Syngenta, Bayer, Basf, Shell, Bunge. Matam o solo, a biodiversidade, contaminam as águas e viram câncer no seu estômago.

- O Brasil é a nona economia mundial. Está em 75.o lugar nas condições de vida, e é o sétimo pior país em desigualdade.

- Desde 1985, foram assassinados no campo mais de 1.600 lideranças de trabalhadores. Apenas 80 assassinos chegaram aos tribunais, 15 foram condenados e uns 5 estão na cadeia.

Diante disso, decidiram: Vamos convocar uma CPMI para impedir a reforma agrária!!!

João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST e da Via
Campesina Brasil

Um comentário:

Blog do Silvio Durante disse...

A Cutrale é inimiga da Reforma Agrária e por isso é inimiga dos trabalhadores desse país! Viva a luta camponesa pela Reforma Agrária!